segunda-feira, 6 de abril de 2020

família_pereira-alvim

1. Manoel Pereira Alvim
O português Manoel Pereira Alvim, filho de Simão Barroso Pereira e dona Benta Gomes, nascido aos 27 de setembro de 1726, natural da Freguesia de Santa Maria de Salto ou Saltado, Comarca de Chaves, Arcebispado de Braga, do Reino de Portugal (H. D. Cerqueira de Souza, Os Herdeiros do Guarda-Mor - Fontes e Documentos / Subsídios para a História de uma Família, 2014, 106: 13-14) , chegando ao Brasil em meado do século XVIII, para o trabalho e enriquecimento, envolvendo em atividades mercantis, comércio de abastecimento das capitanias de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, em pouco tempo amealhando considerável fortuna.
Sua trajetória é bastante conhecida na História do Brasil, dispensando acréscimos.
Já rico, convidou os sobrinhos portugueses. Gervásio Pereira Alvim e José Pereira Alvim, a migrarem para o Brasil, para que o auxiliassem nos serviços com expectativa em aumentar seus negócios, consequentemente os lucros, e todos enriquecerem. Gervásio se estabeleceu em São João Del Rei e o José em Queluz. 
Os principais livros e trabalhos didáticos praticamente não mencionam um terceiro sobrinho, Antonio Pereira Alvim, irmão daqueles dois, que também chegou ao Brasil para fazer vida, aparentemente sem vínculos diretos de trabalho com o tio ou, mesmo, os irmãos.

2. Gervásio Pereira Alvim
Português, nascido em 1761, na Freguesia de Santa Maria de Salto ou Saltado, Arcebispado de Braga do Reino de Portugal (H. D. Cerqueira de Souza, op. cit, 133: 26-27), filho de Thomé Afonso Pereira e de Senhorinha Gomes Pereira, casado com Francisca Candida de Resende, filha do inconfidente José de Resende Costa, todos moradores no distrito da Lage, termo da vila de São José. com os seguintes filhos conhecidos: 'capitão Gervásio Pereira do Carmo Alvim, casado com Ana Antônia; Manoel Pereira de Resende Alvim, casado com Agostinha Querobina; o padre Joaquim Carlos de Resende; Antonio Cândido de Resende, casado com Francisca de Paula; Mafalda Cândida de Resende, casada com o capitão Antonio Pinto de Lara; e Francisco de Assis Resende Alvim, casado com Maria Vitória' (http://www.projetocompartilhar.org/ - GERVÁSIO PEREIRA DE ALVIM, capitão mor Testamento e Inventário, Museu Regional de São João del Rei Tipo de Documento: Inventário Ano: 1837 Caixa: 11_03 Inventariado: Capitão Mor Gervásio Pereira Alvim Inventariante: Francisca Cândida de Resende Local: Vila de São José - Tiradentes Transcrito por : Edriana Aparecida Nolasco a pedido de Aristóteles Rodrigues).
Gervásio se tornou muito rico como intermediário nos negócios do tio, além do tráfico de escravos. Por ocasião do exílio de seu sogro José de Resende Costa e o cunhado - mesmo nome do pai, Gervásio tornou-se tutor dos bens de família.
Os envolvimentos de Gervásio e o tio, Manoel Pereira Alvim, com os inconfidentes, causaram forte impacto negativo nos negócios - relações comerciais e círculo social, mas não o bastante para torná-los em dificuldades financeiras, e logo restabelecidos, expandiriam os negócios.

3. José Pereira Alvim
O Capitão-Mór, José Pereira Alvim, português, nascido na Freguesia de Santa Maria de Salto ou Saltado, Arcebispado de Braga do Reino de Portugal, filho de Thomé Afonso Pereira e de Senhorinha Gomes Pereira (H. D. Cerqueira de Souza, op. cit, 132: 26), casado com Quiteria Umbelina Gomes Ferreira, com a qual teve os seguintes filhos conhecidos: Francisco Pereira de Alvim; Maria Querubina de Alvim; Anna Umbelina Gomes Alvim; e Manoel Pereira de Assis Alvim.
A serviço do tio Manoel Pereira Alvim em Queluz, no exercício de representante do tio e cobrador de dívidas, também morador da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade, da Villa de Barbacena - MG. 

4. Antonio Pereira Alvim
Antonio Pereira Alvim, consta nascido aos 30 de abril de 1766, na localidade de Pereira, em Santa Maria do Salto ou Saltado, Arcebispado de Braga do Reino de Portugal, filho de Thomé Afonso Pereira e de Senhorinha Gomes Pereira ((H. D. Cerqueira de Souza, op. cit, 131: 26).
Foi casado, em primeiro consórcio, com Quitéria Justina Rodrigues, aos 04 de junho de 1798, em Barbacena (Livro  de Matrimônios, 1795/1812: 135), ela, brasileira, filha de João Rodrigues do Valle e Izabel Ribeiro, com a qual teve os seguintes filhos conhecidos, todos nascidos em Barbacena - MG, conforme assentos eclesiais de batismos respectivos: Francisco Pereira Alvim, nascido em 1798; Antonio Pereira Alvim, nascido em 1799; Maria Pereira Alvim, nascida em 1802; Senhorinha Alvim , nascida em 1804; e Manoel Pereira Alvim, nascido em 1806.
—Enviuvado casou-se com Francisca Bernarda de Castro, viúva de José Antonio Duarte, aos 29 de janeiro de 1812, em Barbacena (Livro de Matrimônios: 1808/1826: 44).
Assim como os irmãos Gervásio e José, Antonio teve vínculos de trabalho com o tio Manoel Pereira Alvim, mais discreto, e seu nome não aparece tanto nos estudos e trabalhos didáticos relacionados à dinâmica mercantil e social dos parentes, tanto que, menos ou em nada atingido pelas consequências políticas da denominada 'Inconfidência Mineira'.
Esse Alvim mais interessa ao presente estudo, pela sua descendência a partir de Manoel Pereira Alvim, figura ímpar e emblemática no Sertão do Paranapanema - lado paulista, em Santa Cruz do Rio Pardo, Campos Novos Paulista, e Conceição de Monte Alegre, esta em atual município de Paraguaçu Paulista.

4.1. Manoel Pereira Alvim e família em Santa Cruz do Rio Pardo
Manoel Pereira Alvim nasceu provavelmente em Barbacena – MG, por volta de 1825.
Chegou ao Sertão do Paranapanema, em Santa Cruz do Rio Pardo, no final dos anos de 1860, casado com dona Iria Caetano da Silva, nome também com as variáveis Elias Caetano da Silva, Elias Maria de Jesus, Elias Candida de Jesus, e, até Heliia. 
São conhecidos no Sertão Paranapanema os seguintes filhos do casal, conforme assentos eclesiais informativos: Francisco, nascido em 1855; Manoela, nascida em 1858; Anna, nascida em 1863; e, ainda o Joaquim.
—Dos filhos, é certo que Francisco Pereira Alvim permaneceu em Santa Cruz do Rio Pardo, casado que foi com a senhora Maria Francisca do Espírito Santo, com descendência local.
O Manoel tem registro histórico eclesial na Freguesia de Santa Cruz do Rio Pardo, sede, e na Capela São Pedro - atual São Pedro do Turvo.

4.2. Manoel Pereira Alvim, no São Mateus, em Conceição do Monte Alegre
No ano de 1871 Manoel Pereira Alvim adquire de José Theodoro de Souza, vinte e cinco mil alqueires de terras (José Jorge Junior, Zeca Jorge, Um pouco de história da alta Sorocabana, publicação A Semana - 05/11/1967), na região denominada São Mateus, no então território de Conceição de Monte Alegre, estabelecendo moradia, com a família, agregados e escravos, no ribeirão Bugio, afluente do rio São Mateus, cedendo as terras à margem direita do citado rio, ao companheiro, desde Areado - MG, José Antonio de Paiva Junior, onde ambos residiram, e cujas famílias fortemente vinculadas desde Barbacena e Alfenas, ambas localidades também mineiras.
A fazenda era voltada à policultura, e às criações de porcos e de gado bovino, e, experimentalmente Alvim iniciava a lavoura do café, com dois mil pés da planta, para isso derrubando parte matas de sua fazenda, causando interdição do 'Caminho dos Macaúbas', uma trilha que ligava aldeias caingangue, sentido norte-sul, firmadas nos rios do Peixe e Paranapanema.
—Café era negócio inédito na região, além de Botucatu, Santa Cruz do Rio Pardo e Lençóis Paulista de onde o Pereira Alvim trouxera as mudas.
O lugar estava em franco progresso, mas a interrupção do caminho indígena revoltou os usuários selvagens, e o primeiro ataque em represália recaiu sobre os agregados de José Antonio de Paiva Junior, com a morte de três escravos e todo a lavoura destruída.

4.2.1. O hediondo massacre perpetrado por indígenas contra Manoel Pereira Alvim
Pouco depois chegou a vez da família de Manoel Pereira Alvim, quando este, o genro Antonio Luiz Ferreira, os escravos Manoel Leitão, Zeferino Quirino, João Mulato, Francisco dos Santos e Luiza, em trabalho no cafezal. Os índios provavelmente estavam de tocaia, aguardando oportunidade de ataque, talvez apenas intentando destruir a lavoura, apavorar o fazendeiros e retomar a velha trilha. Por alguma razão, quando um animal passava, o Pereira Alvim resolveu atirar nele e os índios sabe-se lá sentindo-se ameaçados atacaram de surpresa os trabalhadores, os escravos Zeferino, João e Francisco fugiram aterrorizados, o não podendo faze-la escondeu-se num matagal e Luiza permaneceu no local.
Manoel Leitão testemunhou o ocorrido, contou o que viu, e, décadas depois José Jorge Junior escreveu em 05/11/1967, que primeiro tombou Antonio Luiz, depois o Manoel Pereira Alvim e, por último, a escrava Luiza. Os corpos foram retalhados, levaram a cabeça de Antonio Luiz e a mão de Luiza, que, por algumas versões, em causa de vistoso anel num dos dedos.
Mas, o ocorrido foi noticiado, dias depois, em jornais brasileiros da época, exemplificando: 'O Mercantil', de Petrópolis - RJ edição de 27 de agosto de 1887; 'Novidades' - Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1887: 1; 'O Liberal do Pará', em 24 de setembro de 1887: - 2; o 'Diário Mercantil de São Paulo', por referência; e outros. 
O Liberal do Pará, como exemplo aleatório, praticamente noticiou aquilo que foi publicado em outras folhas:
—“(...).O que mais indigna e revolta são as atrocidades e os actos do canibalismo que esses terriveis habitantes das selvas costumam praticar nos cadaveres de suas victimas. De Manoel Pereira tiraram a pelle do rosto toda; de Luiz Antonio cortaram as pernas e os braços e fizeram a extracção de toda a carne do corpo, deixando o esqueleto perfeitamente limpo, etc, etc. Este hediondo e revoltante attentado foi praticado no dia 8 deste mez [08 de agosto de 1887].Em consequencia, a população d’aquelle município [Campos Novos do Paranapanema] está extraordinariamente sobressaltada e amedrontada, esperando a reproducção, como infelizmente todos os annos acontece, por occasião das derrubadas das mattas."
Os jornais da época estavam praticamente 'em cima da notícia', mesmo admitindo exagero no tocante ao canibalismo indígena. Os autores SatoPrado entendem que índios Caingangue não eram canibais, assim como nenhuma tribo de qualquer outra etnia na região e época, parecendo a notícia mais apelativa; de outra sorte, os índios eram rápidos nos ataques, e não se dariam ao demorado trabalho de 'tirar pele do rosto' ou descarnes; às vezes, tendo fixação por botas, os índios desmembravam as pernas e as carregavam para, depois, descalça-las e poderiam ter feito semelhante com a mão da escrava que tinha anel num dos dedos.
Oitenta anos após o bárbaro crime, o cronista e historiador paraguaçuense José Jorge Junior (op.cit), apesar da descrição que os índios carregaram a cabeça de uma das vítimas e outros horrores, arrematou:
—“(...). Os corpos foram levados em sacos tais eram as suas horríveis condições. Diante do hediondo espetáculo, a esposa de Alvim acabou enlouquecendo e, a qualquer descuido da família perambulava, perdida, pelos campos. A filha de Pereira Alvim, esposa de Manoel Luiz, ao defrontar os corpos retalhados sofreu tamanho choque que veio a falecer três dias depois.Diante de tamanha desgraça, os filhos de Manoel Pereira Alvim, decidiram pela vingança. Organizaram uma expedição bem armada, de uns sessenta homens, e partiram seguindo a trilha dos índios. Atravessaram o Rio do Peixe e, já na vertentes do Aguapeí, ou Feio, encontraram uma aldeia. Ali só estavam indios velhos e doentes que foram, sem perda de tempo, exterminados. Não encontrando mais ninguém, a caravana tomou o caminho de volta. Já escurecia quando atingiram o Rio do Peixe. Acamparam ali. Pela manhã, a tropa preparou-se para continuar a caminhada. Na frente seguiam José Paião, filho de Alvim [não levantado, ainda, que era mesmo filho de Alvim] e chefe da caravana, João Maciel e Joaquim Pereira Alvim [este sim, filho de Alvim]. Logo após os primeiros passos foram surpreendidos por feroz ataque indígena, ao qual, responderam com cerrada fuzilaria. Finda a rápida luta, estavam mortos José Paião e José [João] Maciel. Joaquim Pereira Alvim fora atingido por uma flecha, no pescoço, porém sem gravidade. Os mortos foram enterrados ali mesmo e a expedição vencida continuou a sua marcha,”
Também, lembranças de família, dão conta que um parente de Manoel Pereira Alvim, residente em Santa Cruz do Rio Pardo, recém-chegado de uma romaria a Aparecida – SP, incorporou-se na caravana da vingança. O padre, dr. Maurílio Marques, confirma a memória familiar numa versão dada por Adauto Davini: "O irmão da vítima, residente na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, retornava de uma romaria a Aparecida do norte. Quando se inteirou do fato, foi ao local onde ocorreu a chacina e envenenou o cocho de mel dos índios." (Marques, Padre Maurílio: Na Rota dos Coroados - Gênese de duas cidades do Rio do Peixe: Echaporã e Oscar Bressane, Coletânea de Histórias,2009: 16). 
Parece tratar-se de Francisco Pereira Alvim, filho do Manoel Pereira Alvim, residente em Santa Cruz do Rio Pardo, embora outra vertente familiar diz tratar-se de Antonio Pereira Alvim, que seria irmão da vítima, residente em Campos Novos do Paranapanema - atual Estância Climática Campos Novos Paulista.